sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Tempo

O tempo e a mão que não consegui detê-lo. O tempo passa!

Olhando daqui, eu enxergo um Maysa melhor.
Aprendi tanto esses ultimos tempos, poucas pessoas poderiam me entender.
O caminho que te leva ao encontro de você não é o mais fácil, experimentar
suas dores em vários ambitos é também se ver livre delas.

O caminho do aprendizado nunca nos deixar ileso da dor, é exatamente isso que
nos torna humano. Aceitar essa condição tem transformado meu coração.

Olhar as pessoas e enxergar sua parcela mais humana, mais pronfunda, me faz hoje
quer estar perto delas. Nunca pensei novamente poder dizer que eu acredito na amizade
e no amor.


Eu ainda vejo tanta beleza e delicadeza no mundo.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Instante


Quadro: Jackson Pollock, 1912 - 1956
Number 7, 1951, 1951


Deitada em seu leito de morte, tinha em si a capacidade de acalentar o mundo, silênciar a dor de tantos peitos, de tantas perdas, de tantas mortes que não eram suas.

Quando menina, pensara por muito tempo não ter talento para o amor, quanta ironia.
Exalava amor.

Se esforçará tanto pelo bom, pelo justo, esquecerá de entrar em contato com a dor,
esvairiu-se de si. Ficou longe, distante. Não abraçou o mundo.

Deitada em seu leito de morte, trazia a responsabilidade do mundo pra si, como um demi-deus, que regia caminhos. Quanta bobagem! ela podia dizer em sua ultimas palavras. Preferiu silênciar o instante, o único instante que perseguiu e se distanciara a vida toda.

O instante em que poderia estar consigo mesmo, com sua verdade, com sua vida e sua morte.

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A dor de existir e se percebe só. Tão difícil perceber que dentro de uma vida há tanta morte e ainda estar vivo.

E eu ainda vejo tanta beleza e delicadeza no mundo.

O tiro passou-me ao lado.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Fugidia

Poderiam dizer: - Como essa moça é agradável!

Cabelos pretos, oras nem tão preto. Olhar de criança, fugidia!
Esconde um deserto!
Ponte finda em si mesmo.
Com imensa dificuldade de "achar o jeito de ser gente".

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Travessia




Teus olhos, minha travessia
Mar de lágrimas e vento
Forte.
Teus olhos, meu menino
Sós
Rio hostil
Sangra a fome
Teus olhos, meu menino
Minha travessia de mulher.

Maysa Louzada - nov./ 2009

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Uma Carta

Eu que estive longe escrevo para dizer que estou voltando aos meus, aos que ficaram me despeço em uma só nota, em uma só lágrima, a lágrima de que o caminho foi longo, que o caminho foi curto, muitas vezes sem fim. Mas há e haverá ainda céu e este não se acaba.


Eu que estive longe escrevo para dizer que estou voltando aos meus, e que andei desenhando casas, nenhuma se parece com a de minha infância. Não poderia eu requerer minha casa se quando perto estive do lado de fora e quando dentro confusa e vazia. Há de se fechar com travas e tramelas e se dispor a entrar.


Eu que estive longe escrevo para dizer que estou voltando aos meus, e que andei sonhando com o que eu ainda não consigo escrever. Volto a fim de requerer o que é meu por direito e abdiquei. Se nesse caminho te encontrei, saiba que nada era meu, nem copo, nem vestes, mesmo que parecesses meus.


Eu que estive longe escrevo aos meus, para dizer que ando recordando o caminho de volta, que parti de mim em busca do que estava ao lado e estando ao lado não suportei tamanha escolha. Para longe perdi um pouco a cada dia, meus olhos, um jogo de futebol na tv, um possível melhor amigo, meu sorriso, inúmeros domingos, eu e você.

Por estar longe, e só por estar longe, pude voltar!


Em frente a minha rua, já não escrevo mais!


Observo o caminho que inúmeras vezes pensei ter passado, casas amarelas de minha lembrança, se desfaz no tempo. Flores, arvores, meus cachorros dão espaço a um caminho de pedras vazio. Nada estivera lá. Meus mortos não foram sepultados em minhas terras, o riso da criança que não nasceu, o sorriso de uma avó, um periquito, minha mãe. Nada estivera lá. No jardim o cheiro do sereno não vem.
Na porta de casa, a dor. Nada faz sentido.
Na porta de casa todas as cartas que escrevi aos meus.

Em minha casa nem eu mesma tive a chave para entrar.
Em minha casa nem eu mesma tive a chave para sair.

No escuro da sala tinta, papel e caneta. Andei escrevendo cartas.



Maysa Louzada
Novembro de 2009